O que dizer de "Tell Me What to Swallow", faixa final do álbum de estreia dos Crystal Castles, datado de 2008? É um caso curioso. Do conjunto de faixas do disco, já de si bastante ecléticas, esta é a faixa que parece destacar-se mais do arranjo: pela sua contenção, pela sua secção rítmica reduzida a uma guitarra em strumming, pela sua fragilidade. São momentos musicais que vão ser repescados directamente às influências shoegaze e dream pop do final da década de 80, de uma atmosfera absolutamente etérea e flutuante. Só que estamos perante uma maçã envenenada: enquanto a sua composição melódica nos embala num limbo inegavelmente belo, a sua lírica paira por territórios infinitamente mais negros. Ouve-se a voz de Alice Glass a proferir "Through the wall he threw me, I knew he'd never hurt me, Daddy watch me sleeping", sendo rematada por um suspiro quase maternal e exterior que diz "I've been praying for you silently". "Daddy's love makes me whole, without him I'm insecure, the only girl he'd ever love", ouve-se a seguir, culminando com "Is the one that smells so pure.".
As interpretações são múltiplas, mas parece-me difícil retirar uma mensagem minimamente optimista disto. Não se pode dizer que seja uma música que renuncie às suas origens: que dizer dos tempos de "Paint a Rainbow" de My Bloody Valentine, onde se sugeriam cenários necrófilos, ou mesmo o suícidio sugerido por "Sueisfine"? Não significa isto que haja parte alguma da mensagem perdida no caminho: a sua objectividade é absolutamente dolorosa. "Tell Me What to Swallow" é uma mistura de duas forças quase antagónicas que podem muito bem resultar num colapso (até por parte do ouvinte). Assustadoramente belo.
As interpretações são múltiplas, mas parece-me difícil retirar uma mensagem minimamente optimista disto. Não se pode dizer que seja uma música que renuncie às suas origens: que dizer dos tempos de "Paint a Rainbow" de My Bloody Valentine, onde se sugeriam cenários necrófilos, ou mesmo o suícidio sugerido por "Sueisfine"? Não significa isto que haja parte alguma da mensagem perdida no caminho: a sua objectividade é absolutamente dolorosa. "Tell Me What to Swallow" é uma mistura de duas forças quase antagónicas que podem muito bem resultar num colapso (até por parte do ouvinte). Assustadoramente belo.