sábado, 31 de julho de 2010

Segunda pele

Effy sempre foi o ponto de concorrência: não propriamente por ser a única personagem comum às duas gerações, mas antes por se situar frequentemente no epicentro dos acontecimentos de "Skins". O que não deixa de ser irónico, já que aparentemente se trata da personagem mais desconectada. Mais uma vez, isto não poderia ser mais falso: é exactamente o que esconde por debaixo das camadas que, numa iminência de derrame, acaba por ditar o seu destino.



Se isto é verdade, não menos verdade é que o seu carácter central acaba por ser desviado pelo inevitável envolvimento de Emily e Naomi. Não intencionalmente, esta trama acaba por se tornar a verdadeira força-motriz da série durante a terceira temporada: quando se sugere a dualidade entre as duas entidades, as cartas são dadas como escassas vezes aconteceu na série. O conflito social não é esquecido (não poderia, não falamos de um conto de fadas e, muito menos, de uma narrativa que pretenda trazer conforto a um serão de entretenimento televisivo), nem o existencialismo e o questionar de cada passo. Mais uma vez um murro no estômago no que toca a esta matéria: não há facilitismos nem engenhos experimentados na abordagem a esta relação. Tudo é insuportavelmente cru e real demais para se conseguir um pedaço de abstracção.

É, no entanto, quando Emily lê o caderno de Sophia que se dá uma descontrução total de Naomi: novamente o choque com a realidade a fazer a brusca viragem da trama (bastante recorrente no decorrer da série). Termina o segundo episódio da quarta temporada e só existem os restos para serem varridos do chão. Mais à frente na temporada, a mãe de Effy pede a Freddie que a ajude a "reconstruir" a sua filha. Pois bem, a reconstrução de Emily e Naomi possui a maior urgência que a série transporta: um doloroso processo de redenção.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Por aqui!

A festa continua: http://aesperancaeessacoisacompenas.tumblr.com/




Naomi: It's all over.



terça-feira, 27 de julho de 2010

KLAXONS ARE Kats

domingo, 25 de julho de 2010


Leonard Zelig: [in a hypnotic trance] My brother beat me. My sister beat my brother. My father beat my sister and my brother and me. My mother beat my father and my sister and me and my brother. The neighbors beat our family. The people down the block beat the neighbors and our family.

I'm twelve years old. I run into the synagogue. I ask the rabbi the meaning of life. He tells me the meaning of life, but he tells it to me in Hebrew. I don't understand Hebrew. Then he wants to charge me 600 dollars for Hebrew lessons.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Super Bock Super Rock 2010: Dia 18.

A hora das incertezas: The Morning Benders apresentam-se no palco secundário às 19h20 e Stereophonics no palco principal às 19h10. Nenhuma das bandas é, a nível pessoal, exactamente uma referência: desconhecia o conteúdo dos primeiros e os segundos passam-me completamente ao lado. A escolha inicial acabou por recair nos The Morning Benders, uma banda que, a avaliar pelos três temas iniciais do alinhamento apresentado, se revelou desprovida de grande interesse ou energia. Deu-se então oportunidade aos Stereophonics, ainda que em vão, já que só conseguiram provar uma vez mais a sua extrema banalidade e artificialidade de expressão.



O início estava marcado para as 20h20, hora de Britt Daniel e a sua banda tomarem conta do palco principal (Wild Beasts actuaram à mesma hora, mas já diziam os MGMT, "decision to decisions are made and not bought"). Se em disco os Spoon se revelam uma das melhores coisas a acontecerem ao rock alternativo da última década, ao vivo não se ficam por menos. Em primeiro lugar, a banda de Austin não é de cerimónias: Britt Daniel pegou na guitarra acústica e deu, de súbito, início ao concerto com "Me and the Bean" (o mesmo indíviduo que duas horas se encontrava a passear pelo recinto travando conhecimento com os festivaleiros), só sendo acompanhado pelos restantes elementos ao segundo tema, "The Underdog". Um avião esquizofrénico dessa marca de bebida energética tentou desviar as atenções, mas acabou por se juntar à festa. Já se ia em "Don't Make me a Target" (feliz incidência em Ga Ga Ga Ga Ga) quando a electricidade tomou conta do recinto. É bastante incompreensível como uma banda desta magnitude passa relativamente despercebida perante o público português, mas o feedback melhora à medida que se passeiam os trunfos: "The Way we Get By", "I Turn my Camera On" ou "I Summon You" trazem outra vitalidade à prestação. É ainda de notar a eficácia dos temas do novo disco ao vivo.



Os The National não vieram actuar para um público exactamente desconhecido: à parte dos agradecimentos debitados aos festivaleiros, o facto de apresentarem um alinhamento e uma entrega como o que aconteceu no passado Domingo no Meco é, sim, uma verdadeira prova de devoção. Percorrendo quase todos os recantos de maior relevância da sua discografia (que não são escassos), dificilmente se poderia ter ido mais longe: Boxer a dominar uma boa percentagem da actuação ("Mistaken for Strangers" revela-se um início terrivelmente eficaz, enquanto "Slow Show" desdobra a sua força motriz em bruto e "Fake Empire" eleva tudo até à estratosfera), tempo para Alligator ("Secret Meeting" é um excelente catalisador de emoções emergentes, enquanto "Mr. November" é a catarse em forma incendiária) e destaque para High Violet (cujos temas relativamente frescos acabam por contagiar a actuação - "Terrible Love" tem a verdadeira expressão tocada ao vivo e "Afraid of Everyone" é um claramente um dos ases do conjunto). A nível pessoal, talvez um pouco menos deste último disco fosse necessário ao set. No entanto, também o fim com "About Today" não é em vão - é, aliás, devastador.

Um pequeno apontamento para o "espectáculo" de Prince: uma performance bastante interessante, não fosse confundir-se várias vezes com um manifesto nacionalista. Em relação à "histórica" actuação do fado de Amália Rodrigues com Ana Moura acompanhada à guitarra eléctrica tratou-se, no minímo, de uma perda de identidade total da Arte: se se diz que a palavra "saudade" não tem tradução em mais nenhuma linguagem que não o português, também o sentimento do Fado não me parece ser passível de tradução neste tipo de demonstração. A fechar, de notar que "Purple Rain" é o épico de três horas do artista norte-americano. Obrigado.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Super Bock Super Rock 2010: Dia 17.



Holly Miranda apresenta-se em palco com a sua banda e com bastante electricidade. Não se tendo livrado por completo das comparações com Chan Marshall, ao vivo é bastante evidente que os seus temas funcionam bastante bem despidos dos arranjos (talvez um pouco excessivos) do disco. Arriscando-se em covers encadeadas no alinhamento, foram poucos os temas a que tive oportunidade de assistir. Contudo, ouvir o tema "Joints" já fez, quanto a mim, valer a vinda da cantautora a território nacional.



Passa pouco das 21h e sobe ao palco principal Julian Casablancas (conhecido enquanto vocalista dos geracionais The Strokes) para apresentar o seu álbum a solo. Na fila da frente um cartaz pedia-lhe que trouxesse os seus amigos dos The Strokes e, ao assistir à sua actuação, percebe-se bem porquê. Se o seu disco se trata de um produto absolutamente descartável, ao vivo os temas não melhoram. Nem as investidas nas músicas da banda nova-iorquina ou em músicas natalícias salvam a sua performance de ser extremamente penosa. A desilusão do festival está encontrada.



Quem se segue são os Hot Chip. A apresentar One Life Stand, um disco extremamente recomendável, a electropop da banda britânica nada deve aos registos de estúdio, antes pelo contrário. De uma energia dançável absolutamente contagiante, a prestação foi uma das mais alegres e agitadas a que se assistiu no Meco: Alexis Taylor desdobra a sua aparência nerd em danças e percussões, e o público não fica minimamente indiferente. A passagem por temas como "Over and Over", "Thieves in the Night" ou "One Life Stand" conduzem um alinhamento irrepreensível que culmina numa reinvenção de um dos maiores êxitos comerciais da banda: "Ready for the Floor". O palco está aquecido para o regresso de um dos maiores fenómenos de 2008.



É com "Holiday" que se inicia um percurso bastante completo pelos dois discos de Vampire Weekend. Ao vivo, e mesmo tratando-se de um álbum que necessite de alguma maturação que só o tempo se pode encarregar de trazer, os temas de Contra recebem ovações quase tão entusiásticas como os do primeiro álbum. É com "Cousins" que se levanta a primeira nuvem densa de pó, intensificando-se em "A-Punk" (ainda um dos temas mais urgentes e com maior apelo energético da banda), com "Run" enquanto ligação. Ouvir o público do Meco a gritar em uníssono "Blake's got a new face!" foi claramente um dos momentos mais memoráveis da actuação, onde "Campus" se comprova como uma das composições mais fortes ouvida nos três dias de festival. O final com "Horchata", "Mansard Roof" e a excelente "Walcott" (a última nuvem de pó do dia) dificilmente poderia ser mais certeiro.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Super Bock Super Rock 2010: Dia 16.



O Sol fere os olhos desprotegidos dos espectadores do palco secundário enquanto Annie Clark se encontra a fazer o soundcheck com a sua banda reduzida a dois elementos. Os St. Vincent foram muítissimo mal tratados no Meco: não pelo público, que os recebeu com aplausos e mesmo trauteando as versões reinventadas das belíssimas músicas dos discos; antes pelas péssimas condições de som, onde o feedback ganhou vezes demais à extraordinária voz de Annie Clark. Apesar da curta duração do set, foi um concerto bastante simpático para abrir o excelente cartaz de um festival que vezes demais pareceu um tubo de ensaio (especialmente para quem se congratula na sua décima-sexta edição).



Os objectos forrados a penas que caracterizam os concertos da actual digressão dos Beach House avançam, então, até à frente de palco. O Sol teima ainda em espreitar por cima das árvores que servem de pano-de-fundo ao palco quando Alex Scally e Victoria Legrand entram em palco sob um grande aplauso. Se existiram reservas relativamente à prestação da banda num ambiente um pouco diferente da sua última passagem por Portugal (em Abril, no Lux), estas deixaram de existir aos primeiros acordes. Não há nada perdido na tradução: enquanto os Beach House vão conquistando os corações da plateia com grande parte de Teen Dream (um álbum que continua a crescer e ao vivo ganha uma dimensão transcendente) e ainda uma investida no álbum homónimo ("Master of None") e duas em Devotion (Gila e Heart of Chambers), o Sol vai-se pondo atrás da vegetação. Quando é altura de tocar "Take Care" já o Sol se pôs e "10 Mile Stereo" é tocada já na escuridão, com as luzes a elevarem a experiência até à estratosfera. Na folha das directivas lumínicas do concerto lia-se "Go crazy" na descrição deste momento.

Na verdade, descrever um concerto dos Beach House começa a tornar-se bastante difícil, tamanha é a carga emocional envolvida. Fica encontrado, desde logo, o supra-sumo do festival.



Abondonando muito rapidamente o palco secundário (fugindo a sete pés de The Temper Trap), os Cut Copy já se encontram a fazer mexer o público: Lights and Music e Strangers in the Wind já tinham passado, mas a verdade é que a banda é de uma grande competência a lidar com a pequena multidão que entretanto os ouvia. A sua sonoridade resulta muito bem in loco, apesar de a escolha de guardar temas novos para a recta final ser bastante discútivel.



Passam alguns minutos das 23h30 quando os Grizzly Bear sobem ao palco secundário, entretanto invadido pelas suas luzes presas em frascos que se ostentam de suportes metálicos. Claramente uma das bandas mais esperadas deste dia (a nível pessoal, do festival inteiro), o set da banda foi curto, directo e eficaz. Dentro do alinhamento houve tempo para cobrir os vários territórios explorados em disco, assentuando o seu experimentalismo nos meandros do rock e do folk. A certa altura, surge Victoria Legrand em palco para dar voz a "Two Weeks" e a "Slow Life", elevando a fasquia de um concerto já de si fabuloso. Termina-se com "While You Wait for the Others" e "On a Neck, on a Split", mas ainda há tempo para recolher alinhamentos e autógrafos enquanto os Pet Shop Boys actuam no palco principal.

domingo, 4 de julho de 2010

O que rodou no primeiro semestre de 2010



Ariel Pink's Haunted Graffiti
, "Before Today" - 8/10
Pop orelhuda (não óbvia) transmitida por sobreposição de camadas numa telefonia com sinal inconstante. O saber fazer é uma coisa muito bonita, e Ariel Pink sabe.

Beach House, "Teen Dream" - 8+/10
Regresso ao dream-pop e chegada ao auge do curto (e deveras interessante) percurso da banda de Baltimore. Ver post do concerto do Lux Frágil.

Blood Red Shoes, "Fire Like This" - 7/10
Melhorou-se a técnica, manteve-se a urgência e arriscou-se. Belo disco de rock.

Crystal Castles, "Crystal Castles [2]" - 9/10
A revolução industrial com contornos obscuros deixa de ter espaço para os jogos da Atari. Ver post do concerto do Coliseu.

Here We Go Magic, "Pigeons" - 6+/10
Não se ofende ninguém nem se fazem novos amigos; se calhar é demasiado inofensivo para se livrar do rótulo de indie pop (bastante) passageiro.

LCD Soundsystem, "This is Happening" - 8+/10
O último acto nada deve aos seus precedentes; a electrónica pop actual não seria a mesma sem James Murphy. Há momentos quase à altura de "All My Friends" (dizer isto não é dizer pouco).

Los Campesinos!, "Romance is Boring" - 7/10
Pop orelhuda e muito energética: são eles que valem quando o estado de vigília teima em querer ausentar-se.

Massive Attack, "Heligoland" - 7?/10
Já se passou uma dúzia de anos desde o "Mezzanine" e a esse nível já não é possível chegar. Continua a ser-se bastante pertinente. Precisa de mais atenção (daí a interrogação).

MGMT, "Congratulations" - 8+/10
A reinvenção é essa coisa com penas.

Parallels, "Visionaries" - 7/10
Pontuais vocoders, sintetizadores e electrónica pop? Bring them on!

She & Him, "Volume Two - 7/10
Banda sonora para a estação primavera/verão de 2010. Parece-me que já se foi mais longe, mas desilusão não é termo que se aplique assim.

Sleigh Bells, "Treats" - 8/10
As minhas colunas nunca são as mesmas após cada reprodução de "Crown on the Ground".

Spoon, "Transference" - 7/10
Não é um disco que baralhe as cartas e volte a dar, mas um disco mais convencional dos Spoon é sempre avesso à falta de qualidade.

The Drums, "The Drums" - 6+/10
Álbum simpático para o Verão. Consegue trazer alguma alegria a uma estação sazonal sem grande interesse.

The National, "High Violet" - 7?/10
Há esforços em vão, mas há tiros certeiros; o sucessor de "Boxer" não é para ser recebido de ânimos leves. Merece mais atenção do que a obteve até agora.

The Radio Dept., "Clinging to a Scheme" - 6/10
Estes suecos já juntaram o shoegaze e a pop de forma bem mais interessante do que os Pains of Being Pure at Heart e vizinhos. Todos temos dias menos bons, ainda que exista "Heaven's on Fire".

Two Door Cinema Club, "Tourist History" - 6/10
Pop orelhuda óbvia. Interessante e catchy q.b.

Vampire Weekend, "Contra" - 8/10
Há energia do mesmo sítio de "Walcott" e continuam a existir africanismos emigrantes. Parece-me não haver aqui nada a mais.

Wavves, "King of the Beach" - 7+/10
A banda sonora oficial para a praia é esta, não são os The Drums.

domingo, 13 de junho de 2010

Uma piada.



"Heard joke once: Man goes to doctor. Says he's depressed. Says life seems harsh and cruel. Says he feels all alone in a threatening world where what lies ahead is vague and uncertain. Doctor says "Treatment is simple. Great clown Pagliacci is in town tonight. Go and see him. That should pick you up." Man bursts into tears. Says "But Doctor... I am Pagliacci." Good joke. Everybody laugh. Roll on snare drum. Curtains."

Alan Moore, Watchmen

terça-feira, 11 de maio de 2010

Depois da tempestade



O que dizer de "Tell Me What to Swallow", faixa final do álbum de estreia dos Crystal Castles, datado de 2008? É um caso curioso. Do conjunto de faixas do disco, já de si bastante ecléticas, esta é a faixa que parece destacar-se mais do arranjo: pela sua contenção, pela sua secção rítmica reduzida a uma guitarra em strumming, pela sua fragilidade. São momentos musicais que vão ser repescados directamente às influências shoegaze e dream pop do final da década de 80, de uma atmosfera absolutamente etérea e flutuante. Só que estamos perante uma maçã envenenada: enquanto a sua composição melódica nos embala num limbo inegavelmente belo, a sua lírica paira por territórios infinitamente mais negros. Ouve-se a voz de Alice Glass a proferir "Through the wall he threw me, I knew he'd never hurt me, Daddy watch me sleeping", sendo rematada por um suspiro quase maternal e exterior que diz "I've been praying for you silently". "Daddy's love makes me whole, without him I'm insecure, the only girl he'd ever love", ouve-se a seguir, culminando com "Is the one that smells so pure.".

As interpretações são múltiplas, mas parece-me difícil retirar uma mensagem minimamente optimista disto. Não se pode dizer que seja uma música que renuncie às suas origens: que dizer dos tempos de "Paint a Rainbow" de My Bloody Valentine, onde se sugeriam cenários necrófilos, ou mesmo o suícidio sugerido por "Sueisfine"? Não significa isto que haja parte alguma da mensagem perdida no caminho: a sua objectividade é absolutamente dolorosa. "Tell Me What to Swallow" é uma mistura de duas forças quase antagónicas que podem muito bem resultar num colapso (até por parte do ouvinte). Assustadoramente belo.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Alice practice

O Coliseu parecia uma sala demasiado grande para o evento da última terça-feira, a avaliar pela assistência que só completava metade da plateia no início do primeiro aniversário da Nokia Music Store portuguesa.

Não se pode dizer que os Youthless tenham sido a escolha mais acertada para começar a noite: o duo (por vezes trio) parece não ter grande coisa a acrescentar ao panorama musical onde se insere. Também a comunicação fragmentada entre o português e o inglês (sintomas da globalização) não os favoreceu particularmente, ainda que o facto do seu pedido de mosh tenha sido acedido pela audiência mais energética da frente de palco.

Pouco depois das 22h, os The Horrors tomavam conta do palco para debitar 90% do excelente "Primary Colours". Herdeiros directos do pós-punk, a atitude cénica encaixa perfeitamente nas composições negras da banda (ainda que se aproxime da Luz em alguns momentos-chave). A verdade é que a banda inglesa não se ficou aquém da competência que lhes era exigida, ainda que não tenha apresentado grandes rasgos que a transcendessem (em parte culpa do público que os recebeu de forma algo contida e de algumas imperfeições no som). Contudo, e ainda que o final da actuação reservasse "Sea Within a Sea" (música que em circunstância alguma parece falhar), quem os ouviu em Julho na praia do Taboão não perdeu, até aqui, grande acontecimento. Talvez também os The Horrors não tivessem o seu lugar mais favorável frente a uma plateia que ansiava pelo apocalipse que se avizinhava.



O compasso de espera de meia hora pareceu demorar infinitamente mais. Mas finalmente as luzes do Coliseu apagam-se e o palco, com o material de Ethan Kath à esquerda e a bateria ao centro, enche-se de fumo. A histeria enche então os lugares que ficaram vazios no Coliseu. Ouvem-se os primeiros ruídos de "Baptism" e percepciona-se a silhueta de Alice Glass através dos strobes. A explosão dos minutos seguintes não é passível de ser descrita: este foi um dos inícios mais energéticos de que tenho memória de assistir. Parece-me não ser exagero dizer que o público já estava conquistado ao fim da primeira música, a avaliar pelas declarações amorosas debitadas a Alice e pelo histerismo generalizado.

As investidas no primeiro álbum tiveram direito às recepções mais caóticas, ainda que ao vivo as músicas do segundo volume sejam igualmente exponenciadas. A paragem obrigatória em "Alice Practice", "Courtship Dating" ou "Doe Deer" tomaram o Coliseu de arrastão numa actuação absolutamente imparável, onde ainda houve espaço para os momentos mais etéreos de "Celestica", por exemplo, que ganha uma dimensão épica in loco.

A figura de Alice Glass é incortonável: a imagem algo contida é rapidamente dissipada num verdadeiro animal de palco, alternando entre as danças mais esquizofrénicas, o equilibrismo em cima da bateria e o crowd-surf. A verdade é que um concerto dos Crystal Castles transcende todas as barreiras de um acontecimento do seu tipo: é antes uma experiência sensorial sem paralelo irrecusável (ainda que exista quem me confirme que existiam dois pares de indivíduos absolutamente estáticos durante a actuação).




Alinhamento de Crystal Castles (04/05/2010):

Baptism
Fainting Spells
Courtship Dating
Insectica
Doe Deer
Celestica
Empathy
Reckless
Crimewave
Air War
Alice Pratice
Black Panther
Intimate

Exoskeleton
Yes No

domingo, 25 de abril de 2010

Sombra de dúvida



O que esperar de uma banda que fez tanto pelo rock alternativo nos últimos trinta anos como "Star Wars" fez pela ficção intergaláctica? Bem, há que reconhecer que as expectativas são as nossas piores inimigas. Os factos são, contudo, simples: quem foi à procura dos tempos áureos de "Daydream Nation" e "Goo" saiu com a maior desilusão do mundo; quem foi para ouvir "The Eternal" com certeza assistiu ao melhor concerto da sua vida. E quem foi à procura de um meio-termo entre os dois ficou num limbo de incerteza: se por um lado uma nova materialização da banda histórica em território português é uma inegável satisfação, a constatação da quantidade de material que perdeu lugar para o desfile de 90% do mais recente álbum da banda traz consigo alguma tristeza.

Não sejam feitas confusões, no entanto: os Sonic Youth são uma banda do presente. Continuam a debitar energia quase palpável nos seus riffs, na sua distorção e nas palavras quer de Thurston Moore, quer de Kim Gordon (amén). Ninguém diria que este colectivo anda nestas andanças vai para trinta anos, tal é a sua urgência e energia. São também uma banda que não se presta a um desfile de "hits" e a qualquer tipo de nostalgia, mas que antes foge a sete pés do que possa assemelhar-se à sua zona de segurança (caso raro entre bandas desta longevidade). Tudo isto é de louvar, claro.

Mas, uma vez mais, as expectativas são as piores inimigas do espectador. E o que aconteceu no Coliseu dos Recreios na passada quinta-feira foi uma das maiores descargas de rock a que vamos ter oportunidade de assistir durante este ano. Afinal de contas, os Sonic Youth não andam cá para "massajar a História".

Alinhamento:

No Way
Sacred Trickster
Calming the Snake
Anti-Orgasm
Stereo Sanity
Malibu Gas Station
Walkin Bue
Poison Arrow
Schizophrenia
Antenna
Leaky Lifeboat (For Gregory Corso)
What We Know
Massage the History

The Sprawl.
'Cross the Breeze

Shadow of a Doubt
Death Valley '69

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Eis o messias



"Life of Brian" é o filme mais hilariante de sempre. Bem, talvez não seja. Mas depois de cada visionamento parecem não restar grandes dúvidas quanto a isto. Pois bem que esta história de um indíviduo judeu que se junta a uma colectividade denominada People's Front of Judea (não Judean People's Front e muito menos Popular Front of Judea) transporta para a época desse grande mito, de seu nome Jesus Cristo, o humor sem tempo nem idade dos Monty Python. Há aqui cenas de antologia da comédia de sempre: o apedrejamento do indíviduo que profere o nome de Jeová em vão por parte de mulheres disfarçadas de homens, o imperador Pontius Pilate a testar a sonoridade do nome do seu amigo Biggus Dickus perante os seus lacaios, ou a conversão imediata e inconsequente de um homem à donzela Loretta. E isto surge na entrega de importantes e recorrentes mensagens sobre os dogmas religiosos católicos, sem que o objectivo seja propriamente ferir susceptibilidades. Até porque, como se canta em coro no final, always look on the bright side of life.

terça-feira, 13 de abril de 2010

A gaiola é essa coisa com penas

Estrutura de gaiola? Então.
A gaiola é uma coisa muito relativa.
Se eu fosse um pássaro não gostava de viver numa estrutura de gaiola. Muito menos fazia cenas em cima das pessoas. Ser pássaro é uma coisa muito relativa também.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A repetição é essa coisa com penas, ou como descobrir que se ouviu um álbum mais vezes do que se imaginaria

- "Qual é a faixa que vem a seguir à «Scientist Studies» no alinhamento do We Have the Facts and We're Voting Yes dos Death Cab?"
- "Então, é a «Title Track»."

segunda-feira, 29 de março de 2010

Ghost in the machine



A certo ponto, e na sequência de uma invasão de um encontro de scanners por homens de Revok que acaba num abrupto incêndio e consequente fuga, a personagem interpretada por Jennifer O'Neill apresenta uma expressão absolutamente ausente e perturbada. A personagem encontrava-se a meio de um scan e, quando chamada à realidade, profere "Agora eu sei qual é a sensação de morrer". Refiro-me portanto ao filme "Scanners" de David Cronenberg. E este momento acaba por ter um significado de rotura, na medida em que os scanners são colocados num contexto inegavelmente antropológico: estes seres possuem, afinal, sentimentos e emoções que transcendem as suas capacidades neurológicas e telepáticas. Pois que esta fusão máquina-humano não é propriamente inédita na filmografia do realizador canadiano (posteriormente em Videodrome onde sinais de televisão viriam a estar em sintonia com corpos, entre muitos outros casos). A questão está na abordagem, que aqui se encontra intrínseca à genese humana e que com ela vive pacificamente. De certa forma, existe alguma utopia na visão de Cronenberg, de aproximação quase íntima do Humano à Maquinaria, mas o realizador não está particularmente interessado em apregoar as vantagens disto: consequências devastadoras são desde cedo concretizadas e o limiar entre as duas entidades torna-se o território de exploração de Cronenberg.

Nota: Dentro deste contexto, e para uma abordagem bastante diferente, e impossível não referir o primeiro tomo de "Ghost in the Shell".

sexta-feira, 26 de março de 2010

É bom ver-te sem as correntes, Ricardus.

Impus a mim mesmo uma espécie de auto-controlo relativamente a informação relacionada com a série LOST quando criei este espaço. Bem sei que, podendo, todas as quartas-feiras existiria pano-para-mangas para muitas linhas sobre este assunto, mas a verdade é que existem outras coisas a serem igualmente tratadas. Quebro esse silêncio para falar sobre o episódio desta semana, "Ab Aeterno", sendo estas palavras dirigidas apenas aos espectadores regulares desta série (existem spoilers sobre o episódio em questão a seguir à imagem).




Uma concepção bastante simples de Bem e de Mal com a Ilha no seu epicentro. Será?


Richard era, até esta semana, uma das figuras mais intrigantes da mitologia de LOST: um indivíduo que aparentemente não envelhece, que se encontrava na Ilha antes da Iniciativa Dharma e que era intermediário de Jacob perante os indíviduos do Templo (entre outros). Assim, um episódio centrado na sua figura era um dos marcos mais antecipados desta derradeira temporada. E a verdade é que tudo é concretizado: mas vamos por partes.

Em primeiro lugar, temos a tragédia grega mais uma vez ensaiada no amor entre Richard e Isabella. Este ponto fulcral acaba por ser o epicentro de todo o "Destino" de Richard: a busca pela redenção através da fé surgiu muitas vezes representada na série, mas talvez nunca de forma tão desesperante e desorientadora. Contudo, a redenção acaba por ser aparentemente encontrada no encontro com Jacob (mais tarde no episódio descobrimos que isto não é tão linear quanto isso). A cena de reencontro do casal no limiar vida/morte (com Hurley como intermediário) é absolutamente desarmante.

Em segundo, há a consagração da mitologia de uma série sem paralelo. Todo o episódio é constituído por referências e paralelismos a elementos regularmente abordados em LOST, bem como aos mais distantes. Pois que, neste momento, se começa a ter uma percepção um pouco mais concreta da globalidade destes elementos que nos têm vindo a ser apresentados desde o episódio-piloto, sendo constantemente reinventados nas mais adversas condições.

Por último, a introdução física ao conflito Jacob/Esau (Esau designa, em termos práticos, o indíviduo de negro). Ainda que os últimos dez episódios tenham girado em torno desta disputa, na realidade escassas vezes tinhamos assistido à materialização deste conflito omnipresente. A trama ganha uma forma absolutamente nuclear mais uma vez e o que a coloca nesta posição é precisamente este dilema tão típico da série: em que facções residem, realmente, o Bem e o Mal? Esta situação tem sido miraculosamente tratada com imparcialidade até à data, transportando estas concepções para julgamentos morais formulados por Jacob e Esau, mas a verdade é que estes parecem ter o mesmo valor de verdade de os de um qualquer mortal.

Assim, parece-me estar encontrada a segunda obra-prima desta sexta temporada, precedida por "Sundown", claro está.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Vertigem



A narrativa de "Vertigo", obra-prima de Alfred Hitchcock estreada em 1958, é em si cheia de peculiaridades e detalhes. Existe, pois, a história do detective Scottie contratado para vigiar Madeleine, pela qual acaba por nutrir certos fortes sentimentos. No entanto, com a saída de Madeleine de cena, é possível constatar a possibilidade de análise das várias camadas desta trama, para momentos a seguir sermos surpreendidos por uma nova aparição desta entidade. Mas esta figura, que antes conhecemos enquanto Madeleine, afirma agora chamar-se Judy. Cedo se constata que não ludibria nem o espectador nem o detective Scottie. E esta cadeia causal leva a uma cena absolutamente transcendente: Judy entra no quarto deixando Scottie entrar atrás de si, seguindo para a casa de banho para se preparar para jantar. Scottie senta-se à janela. Iluminada por luzes neon verdes que vêm do exterior, surge agora a figura de Madeleine, que avança até aos braços de Scottie. Não há nada mais revelador do que esta transfiguração e o seu respectivo encaixe nas tais várias camadas de leitura de "Vertigo".

domingo, 21 de março de 2010

E existe

quinta-feira, 18 de março de 2010

Os mestres do nada

"Teen Dream", dos Beach House, é o melhor álbum que ouvi até à data em que escrevo esta mensagem, isto relativamente a música lançada no presente ano. Costuma dizer-se que não há amor como o primeiro (o álbum homónimo), mas neste caso à terceira foi de vez (a devoção veio dos tempos do "Devotion" propriamente dito). Pois que agora os definitivos mensageiros da herança dream-pop para a era moderna mostram que há muitas outras direcções para as quais disparam, sem inconsequência. E, para a maior surpresa, ao vivo a experiência não se resigna minimamente: Victoria Legrand tem, realmente, uma voz maior que o mundo e Alex Scally não se eclipsa na sua sombra. Na verdade, parece-me que a maturação da banda acaba de chegar a um novo expoente: os tons harmónicos gerados pela guitarra de Scally em "Norway" são um dos seus mais fascinantes trabalhos técnicos, por exemplo. Mas não se ficam por aqui: "Silver Soul" é de uma profundidade raramente alcançada, enquanto "Take Care" coloca um novo marco no irrepreensível percurso da dupla: a presença tão iminente do teclado de Legrand raras vezes teve uma simbiose tão forte com a guitarra e a percussão.



Relativamente à noite de ontem no Lux. Ao vivo, e enquanto não estão a tocar, os Beach House parecem ser os tipos mais porreiros do mundo: Legrand na sua lisonjeada postura ao receber o mais diverso tipo de declarações de afecto e Scally na sua divertida ironia, debitando promessas de amor eterno ao público português. E o público português são o tipo de espectadores que os começam a conhecer bastante bem: as investidas em "Gila" e "Heart of Chambers" (do álbum "Devotion") foram recebidas com grande euforia, mas também temas-chave do novo álbum tiveram semelhante recepção. De resto, a reter o apoteótico final com "10 Mile Stereo", a comprovar novamente a potencialidade de uma banda cujo crescimento tem sido das coisas mais interessantes de seguir dos últimos tempos. Dream-pop is not dead.


Alinhamento (repare-se que só faltou "Real Love" para que "Teen Dream" fosse tocado na íntegra):

Walk In the Park
Lover of Mine
Gila
Better Times
Norway
Silver Soul
Master of None
Used to Be
Zebra
Heart of Chambers
Take Care

Astronaut
10 Mile Stereo

terça-feira, 16 de março de 2010

Eles são uma banda americana.



Não existe banda mais versátil do que os Yo La Tengo. Não existe banda que tão depressa vá encontrar universos de referências no pós-punk e no shoegaze como nas melodias mais primaveris de uns Belle and Sebastian. Na verdade, esta é uma banda que "pode ser quem muito bem quiser", como se dizia no Ipsilon há dias atrás. Não me refiro somente à versatilidade técnica (a troca de instrumentos é uma constante nos concertos da banda), mas antes a como se faz a transição entre momentos como "Nowhere Near" e "False Alarm" com "We're an American Band". Estamos evidentemente na presença de uma banda que tem mais anos de palco do que eu de vida e que não anda propriamente a experimentar combinações de dois a dois com músicas do baú e os temas mais jovens. Num concerto como o do passado Domingo, na Aula Magna (em que uma das cadeiras da fila da frente serviu por momentos de palco a Ira Kaplan), não há como ficar resignado pelo facto de a banda não tocar mais um par de temas que tanto queriamos, pessoalmente, ouvir. Especialmente quando o alinhamento passou por uma versão absolutamente catártica de "More Stars Than There Are in Heaven", um par de minutos absolutamente incendiários de "Sugarcube" ou uma contida quase-nostalgia de "Our Way to Fall". Com isto, Georgia Hubley acaba de entrar para a minha secção de heróis pessoais da música actual e a noite de Domingo para a secção memorável da colecção de bilhetes de actuações ao vivo.



Alinhamento (os momentos mais altos encontram-se convenientemente assinalados a bold):

Periodically Double Or Triple
More Stars Than There Are In Heaven
Pablo and Andrea
Avalon Or Someone Very Similar
Double Dare
Tired Hippo
If It's True
Here To Fall
I'm On My Way
When It's Dark
Nowhere Near
We're an American Band (Grand Funk Railroad)
False Alarm
Nothing To Hide
Sugarcube
The Story of Yo La Tango

Bad Politics (The Dead C)
You Can Have It All (George McCrae)
Our Way to Fall

Can't Seem to Make You Mine (The Seeds)
The Hour Grows Late

sábado, 13 de março de 2010

Reflexões futuras

O novo par de músicas do álbum de um futuro próximo dos MGMT que surgiram na rede esta semana têm tanto de incatalogável como de fascinante. Pois bem, a questão da arquivação (abordada há um post atrás) é um falso problema - e na verdade, neste caso, não é propriamente uma coisa nova, já que a trilogia final de "Oracular Spectacular" possuía estruturas desconstruídas e sonoridades menos ortodoxas no conjunto do trabalho (não menos fascinantes, claro está). Por estas duas amostras não me parece possível prever o que aí venha (a imprevisibilidade está também associada à banda, lembremo-nos), mas pelo menos até à data estamos bastante bem encaminhados.



Como não me alongo relativamente a "Congratulations", essa muito antecipada obra, uso a resignação para voltar a "Oracular Spectacular": mais especificamente a dois temas em concreto, que são eles "Weekend Wars" e "Pieces of What", respectivamente, a faixa 2 e 7 do disco. Dois pedaços de música bastante distintos à partida: a primeira trata-se de um exercício bastante progressivo na sua duração, com uma estrutura um pouco desorientadora, enquanto a segunda é uma canção no sentido mais identificável do termo, com os versos, refrões e outros devidamente emparelhados. Factos. Contudo, penso que existe algo mais a dizer sobre estas duas faixas e a sua ligação, ainda que o alinhamento tenda a negar isto. É que em "Weekend Wars" esta história da resignação perante coisas que foram passando, bem como a constatação de certas incapacidades/conhecimentos, parece-me bastante paralela à contada em "Pieces of What", em que se espera para recolher as peças que fazem as "coisas" voltar à normalidade. Pois bem, estas duas narrativas parecem-me bastante relacionadas. Não quero com isto teorizar que o álbum em questão seja conceptual, mas antes constatar uma certa noção de unidade que existe entre as suas partes e que pode muito bem passar despercebida. Enfim, de volta às weekend wars.

terça-feira, 9 de março de 2010

Os ursos vêm a caminho


"Vai um marshmallow?"

Em situações normais, não me identifico com a utilização de rótulos como forma de catalogação de obras artísticas, independentemente do seu tipo. Compreendo, contudo, a necessidade da sua existência de modo a organizar cronologias a serem escritas enquanto História propriamente dita, assim como compreendo a necessidade do cérebro humano de organizar as coisas por arquivos. É que mesmo na catalogação aparentemente impessoal, há individualidade, levando-nos à redundância de questionar a verdadeira utilidade da organização dos arquivos.

Assim, devo dizer que me parece haver mais a dizer sobre as bandas integradas (voluntariamente ou não) no pós-modernista rótulo de "new-rave" do que parece à partida. Em primeiro lugar foram os Klaxons que chegaram para me assombrar frequentemente as listas de reprodução do iTunes há quase 3 anos ("Gravity's Rainbow" é, segundo me consta o lastfm, a 5ª música mais reproduzida da minha biblioteca desde que ali abri conta); agora são os Late of the Pier. Chegando com quase dois anos de atraso aos meus ouvidos, não é difícil de perceber que existe aqui algo de intrinsecamente geracional (um pouco à semelhança do que acontece com os MGMT) a que se torna muito difícil reagir com indiferença. Não me refiro apenas ao seu forte apelo à descarga energética mais física (quem sabe animalesca) mas também à estrutura das suas faixas: a regeneração ao longo de "The Bears Are Coming" teima em alojar-se nas playlists aleatórias criadas pelo meu cérebro, ao lado de ecos de "Mad Dogs and Englishmen" reverberados com samples de "Broken" (isto querendo evitar os mais óbvios "Space and the Woods" ou "Bathroom Gurgle").

domingo, 7 de março de 2010

Oscars

Não faço apostas para os Oscars este ano. Não me consigo decidir entre os dez filmes nomeados para Melhor Filme, mas parece-me que talvez não seja o "District 9" a levar a estatueta.
A que propósito vem isto? Vem, portanto, no seguimento da década em que "Crash" e "Slumdog Milionaire" foram, nos anos respectivos, considerados os melhores filmes pela Academia.

Sundown



Há cinco anos atrás, começavam a surgir as primeiras teorias que tentavam catalogar de forma muito simplista e redutora os fenómenos que timidamente se iam começando a manifestar na Ilha de "LOST". Uma destas, a mais preguiçosa e pretensiosa diria eu, tratava-se de explicar que os sobreviventes do vôo 815 da Oceanic se encontravam no Purgatório e estavam a ser sujeitos a desafios que iriam ditar o seu destino na eternidade. Bem, se quisermos ver as coisas por um buraco na caixa e não assistir ao cenário fora dela, isto era bastante plausível. Contudo, desde cedo que Damon Lindelof descartou essa ideia, afirmando que o que se passava na Ilha era bastante real e físico para os seus peões. Daí que as audiências tenham descido consideravelmente quando começaram a ser jogadas cartas que apontavam em direcções mais desafiantes e, bem, inteligentes.

Isto tudo para constatar que a ideia do "Purgatório" não está tão longe da realidade como isso, passados cinco anos e alguns meses desde a primeira exibição do episódio-piloto. Na verdade, tudo se resigna novamente a julgamentos morais e à escolha de lados mais ou menos maus. Prova maior disso é o final do episódio da semana passada, "Sundown", em que uma encarnação mais ou menos física do Mal faz a sua aparição e respectivos julgamentos acerca da vontade dos habitantes do ecrã. Afinal estivémos sempre no Purgatório, ainda que isto ganhe uma dimensão mais universal quando começamos a constatar que não é a vida eterna que se avizinha, mas antes o Presente. Ouch.

A agulha no palheiro



Grande dilema se abate sobre mim quando me questiono, ao chegar ao lugar do iTunes onde se encontram reunidos os temas de Elliott Smith, sobre que faixa irei ouvir. Surgem-se, contudo, duas respostas óbvias: "Say Yes" e "Satellite". Entre estas duas hipóteses fico a questionar-me enquanto a lista de reprodução anterior acaba mais um repeat. A verdade é que não sei escolher qual das duas é mais adequada: não há reflexão mais pessoal e pertinente sobre o "estado das coisas" que "Satellite", mas também não existe tema triste algum com a contenção de "Say Yes". Não querendo atribuir ao shuffle a árdua escolha, penso que talvez seja melhor optar por um álbum completo do músico norte-americano, para evitar este tipo de dilema. "Figure 8" parece-me bem. Mas depois existe o "XO". O primeiro parece-me ser o registo mais iluminado de Smith, mas o segundo não se deixa eclipsar na sua amargura. Ter de optar tão injustamente por este tipo de coisas não é simpático. Obrigado, shuffle: "Happiness" parece-me, de facto, uma boa opção.

sábado, 6 de março de 2010

"A Esperança é essa coisa com penas."

Escreveu-nos isto, determinada vez, Emily Dickinson, num poema chamado precisamente "A Esperança é essa coisa com penas". Escreveu também que ela pousa na alma, canta no tom sem ter as palavras e preveniu-nos de que isso nunca pára.
Woody Allen ficou "sem penas" um dia.
 
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