sábado, 31 de julho de 2010

Segunda pele

Effy sempre foi o ponto de concorrência: não propriamente por ser a única personagem comum às duas gerações, mas antes por se situar frequentemente no epicentro dos acontecimentos de "Skins". O que não deixa de ser irónico, já que aparentemente se trata da personagem mais desconectada. Mais uma vez, isto não poderia ser mais falso: é exactamente o que esconde por debaixo das camadas que, numa iminência de derrame, acaba por ditar o seu destino.



Se isto é verdade, não menos verdade é que o seu carácter central acaba por ser desviado pelo inevitável envolvimento de Emily e Naomi. Não intencionalmente, esta trama acaba por se tornar a verdadeira força-motriz da série durante a terceira temporada: quando se sugere a dualidade entre as duas entidades, as cartas são dadas como escassas vezes aconteceu na série. O conflito social não é esquecido (não poderia, não falamos de um conto de fadas e, muito menos, de uma narrativa que pretenda trazer conforto a um serão de entretenimento televisivo), nem o existencialismo e o questionar de cada passo. Mais uma vez um murro no estômago no que toca a esta matéria: não há facilitismos nem engenhos experimentados na abordagem a esta relação. Tudo é insuportavelmente cru e real demais para se conseguir um pedaço de abstracção.

É, no entanto, quando Emily lê o caderno de Sophia que se dá uma descontrução total de Naomi: novamente o choque com a realidade a fazer a brusca viragem da trama (bastante recorrente no decorrer da série). Termina o segundo episódio da quarta temporada e só existem os restos para serem varridos do chão. Mais à frente na temporada, a mãe de Effy pede a Freddie que a ajude a "reconstruir" a sua filha. Pois bem, a reconstrução de Emily e Naomi possui a maior urgência que a série transporta: um doloroso processo de redenção.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Por aqui!

A festa continua: http://aesperancaeessacoisacompenas.tumblr.com/




Naomi: It's all over.



terça-feira, 27 de julho de 2010

KLAXONS ARE Kats

domingo, 25 de julho de 2010


Leonard Zelig: [in a hypnotic trance] My brother beat me. My sister beat my brother. My father beat my sister and my brother and me. My mother beat my father and my sister and me and my brother. The neighbors beat our family. The people down the block beat the neighbors and our family.

I'm twelve years old. I run into the synagogue. I ask the rabbi the meaning of life. He tells me the meaning of life, but he tells it to me in Hebrew. I don't understand Hebrew. Then he wants to charge me 600 dollars for Hebrew lessons.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Super Bock Super Rock 2010: Dia 18.

A hora das incertezas: The Morning Benders apresentam-se no palco secundário às 19h20 e Stereophonics no palco principal às 19h10. Nenhuma das bandas é, a nível pessoal, exactamente uma referência: desconhecia o conteúdo dos primeiros e os segundos passam-me completamente ao lado. A escolha inicial acabou por recair nos The Morning Benders, uma banda que, a avaliar pelos três temas iniciais do alinhamento apresentado, se revelou desprovida de grande interesse ou energia. Deu-se então oportunidade aos Stereophonics, ainda que em vão, já que só conseguiram provar uma vez mais a sua extrema banalidade e artificialidade de expressão.



O início estava marcado para as 20h20, hora de Britt Daniel e a sua banda tomarem conta do palco principal (Wild Beasts actuaram à mesma hora, mas já diziam os MGMT, "decision to decisions are made and not bought"). Se em disco os Spoon se revelam uma das melhores coisas a acontecerem ao rock alternativo da última década, ao vivo não se ficam por menos. Em primeiro lugar, a banda de Austin não é de cerimónias: Britt Daniel pegou na guitarra acústica e deu, de súbito, início ao concerto com "Me and the Bean" (o mesmo indíviduo que duas horas se encontrava a passear pelo recinto travando conhecimento com os festivaleiros), só sendo acompanhado pelos restantes elementos ao segundo tema, "The Underdog". Um avião esquizofrénico dessa marca de bebida energética tentou desviar as atenções, mas acabou por se juntar à festa. Já se ia em "Don't Make me a Target" (feliz incidência em Ga Ga Ga Ga Ga) quando a electricidade tomou conta do recinto. É bastante incompreensível como uma banda desta magnitude passa relativamente despercebida perante o público português, mas o feedback melhora à medida que se passeiam os trunfos: "The Way we Get By", "I Turn my Camera On" ou "I Summon You" trazem outra vitalidade à prestação. É ainda de notar a eficácia dos temas do novo disco ao vivo.



Os The National não vieram actuar para um público exactamente desconhecido: à parte dos agradecimentos debitados aos festivaleiros, o facto de apresentarem um alinhamento e uma entrega como o que aconteceu no passado Domingo no Meco é, sim, uma verdadeira prova de devoção. Percorrendo quase todos os recantos de maior relevância da sua discografia (que não são escassos), dificilmente se poderia ter ido mais longe: Boxer a dominar uma boa percentagem da actuação ("Mistaken for Strangers" revela-se um início terrivelmente eficaz, enquanto "Slow Show" desdobra a sua força motriz em bruto e "Fake Empire" eleva tudo até à estratosfera), tempo para Alligator ("Secret Meeting" é um excelente catalisador de emoções emergentes, enquanto "Mr. November" é a catarse em forma incendiária) e destaque para High Violet (cujos temas relativamente frescos acabam por contagiar a actuação - "Terrible Love" tem a verdadeira expressão tocada ao vivo e "Afraid of Everyone" é um claramente um dos ases do conjunto). A nível pessoal, talvez um pouco menos deste último disco fosse necessário ao set. No entanto, também o fim com "About Today" não é em vão - é, aliás, devastador.

Um pequeno apontamento para o "espectáculo" de Prince: uma performance bastante interessante, não fosse confundir-se várias vezes com um manifesto nacionalista. Em relação à "histórica" actuação do fado de Amália Rodrigues com Ana Moura acompanhada à guitarra eléctrica tratou-se, no minímo, de uma perda de identidade total da Arte: se se diz que a palavra "saudade" não tem tradução em mais nenhuma linguagem que não o português, também o sentimento do Fado não me parece ser passível de tradução neste tipo de demonstração. A fechar, de notar que "Purple Rain" é o épico de três horas do artista norte-americano. Obrigado.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Super Bock Super Rock 2010: Dia 17.



Holly Miranda apresenta-se em palco com a sua banda e com bastante electricidade. Não se tendo livrado por completo das comparações com Chan Marshall, ao vivo é bastante evidente que os seus temas funcionam bastante bem despidos dos arranjos (talvez um pouco excessivos) do disco. Arriscando-se em covers encadeadas no alinhamento, foram poucos os temas a que tive oportunidade de assistir. Contudo, ouvir o tema "Joints" já fez, quanto a mim, valer a vinda da cantautora a território nacional.



Passa pouco das 21h e sobe ao palco principal Julian Casablancas (conhecido enquanto vocalista dos geracionais The Strokes) para apresentar o seu álbum a solo. Na fila da frente um cartaz pedia-lhe que trouxesse os seus amigos dos The Strokes e, ao assistir à sua actuação, percebe-se bem porquê. Se o seu disco se trata de um produto absolutamente descartável, ao vivo os temas não melhoram. Nem as investidas nas músicas da banda nova-iorquina ou em músicas natalícias salvam a sua performance de ser extremamente penosa. A desilusão do festival está encontrada.



Quem se segue são os Hot Chip. A apresentar One Life Stand, um disco extremamente recomendável, a electropop da banda britânica nada deve aos registos de estúdio, antes pelo contrário. De uma energia dançável absolutamente contagiante, a prestação foi uma das mais alegres e agitadas a que se assistiu no Meco: Alexis Taylor desdobra a sua aparência nerd em danças e percussões, e o público não fica minimamente indiferente. A passagem por temas como "Over and Over", "Thieves in the Night" ou "One Life Stand" conduzem um alinhamento irrepreensível que culmina numa reinvenção de um dos maiores êxitos comerciais da banda: "Ready for the Floor". O palco está aquecido para o regresso de um dos maiores fenómenos de 2008.



É com "Holiday" que se inicia um percurso bastante completo pelos dois discos de Vampire Weekend. Ao vivo, e mesmo tratando-se de um álbum que necessite de alguma maturação que só o tempo se pode encarregar de trazer, os temas de Contra recebem ovações quase tão entusiásticas como os do primeiro álbum. É com "Cousins" que se levanta a primeira nuvem densa de pó, intensificando-se em "A-Punk" (ainda um dos temas mais urgentes e com maior apelo energético da banda), com "Run" enquanto ligação. Ouvir o público do Meco a gritar em uníssono "Blake's got a new face!" foi claramente um dos momentos mais memoráveis da actuação, onde "Campus" se comprova como uma das composições mais fortes ouvida nos três dias de festival. O final com "Horchata", "Mansard Roof" e a excelente "Walcott" (a última nuvem de pó do dia) dificilmente poderia ser mais certeiro.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Super Bock Super Rock 2010: Dia 16.



O Sol fere os olhos desprotegidos dos espectadores do palco secundário enquanto Annie Clark se encontra a fazer o soundcheck com a sua banda reduzida a dois elementos. Os St. Vincent foram muítissimo mal tratados no Meco: não pelo público, que os recebeu com aplausos e mesmo trauteando as versões reinventadas das belíssimas músicas dos discos; antes pelas péssimas condições de som, onde o feedback ganhou vezes demais à extraordinária voz de Annie Clark. Apesar da curta duração do set, foi um concerto bastante simpático para abrir o excelente cartaz de um festival que vezes demais pareceu um tubo de ensaio (especialmente para quem se congratula na sua décima-sexta edição).



Os objectos forrados a penas que caracterizam os concertos da actual digressão dos Beach House avançam, então, até à frente de palco. O Sol teima ainda em espreitar por cima das árvores que servem de pano-de-fundo ao palco quando Alex Scally e Victoria Legrand entram em palco sob um grande aplauso. Se existiram reservas relativamente à prestação da banda num ambiente um pouco diferente da sua última passagem por Portugal (em Abril, no Lux), estas deixaram de existir aos primeiros acordes. Não há nada perdido na tradução: enquanto os Beach House vão conquistando os corações da plateia com grande parte de Teen Dream (um álbum que continua a crescer e ao vivo ganha uma dimensão transcendente) e ainda uma investida no álbum homónimo ("Master of None") e duas em Devotion (Gila e Heart of Chambers), o Sol vai-se pondo atrás da vegetação. Quando é altura de tocar "Take Care" já o Sol se pôs e "10 Mile Stereo" é tocada já na escuridão, com as luzes a elevarem a experiência até à estratosfera. Na folha das directivas lumínicas do concerto lia-se "Go crazy" na descrição deste momento.

Na verdade, descrever um concerto dos Beach House começa a tornar-se bastante difícil, tamanha é a carga emocional envolvida. Fica encontrado, desde logo, o supra-sumo do festival.



Abondonando muito rapidamente o palco secundário (fugindo a sete pés de The Temper Trap), os Cut Copy já se encontram a fazer mexer o público: Lights and Music e Strangers in the Wind já tinham passado, mas a verdade é que a banda é de uma grande competência a lidar com a pequena multidão que entretanto os ouvia. A sua sonoridade resulta muito bem in loco, apesar de a escolha de guardar temas novos para a recta final ser bastante discútivel.



Passam alguns minutos das 23h30 quando os Grizzly Bear sobem ao palco secundário, entretanto invadido pelas suas luzes presas em frascos que se ostentam de suportes metálicos. Claramente uma das bandas mais esperadas deste dia (a nível pessoal, do festival inteiro), o set da banda foi curto, directo e eficaz. Dentro do alinhamento houve tempo para cobrir os vários territórios explorados em disco, assentuando o seu experimentalismo nos meandros do rock e do folk. A certa altura, surge Victoria Legrand em palco para dar voz a "Two Weeks" e a "Slow Life", elevando a fasquia de um concerto já de si fabuloso. Termina-se com "While You Wait for the Others" e "On a Neck, on a Split", mas ainda há tempo para recolher alinhamentos e autógrafos enquanto os Pet Shop Boys actuam no palco principal.

domingo, 4 de julho de 2010

O que rodou no primeiro semestre de 2010



Ariel Pink's Haunted Graffiti
, "Before Today" - 8/10
Pop orelhuda (não óbvia) transmitida por sobreposição de camadas numa telefonia com sinal inconstante. O saber fazer é uma coisa muito bonita, e Ariel Pink sabe.

Beach House, "Teen Dream" - 8+/10
Regresso ao dream-pop e chegada ao auge do curto (e deveras interessante) percurso da banda de Baltimore. Ver post do concerto do Lux Frágil.

Blood Red Shoes, "Fire Like This" - 7/10
Melhorou-se a técnica, manteve-se a urgência e arriscou-se. Belo disco de rock.

Crystal Castles, "Crystal Castles [2]" - 9/10
A revolução industrial com contornos obscuros deixa de ter espaço para os jogos da Atari. Ver post do concerto do Coliseu.

Here We Go Magic, "Pigeons" - 6+/10
Não se ofende ninguém nem se fazem novos amigos; se calhar é demasiado inofensivo para se livrar do rótulo de indie pop (bastante) passageiro.

LCD Soundsystem, "This is Happening" - 8+/10
O último acto nada deve aos seus precedentes; a electrónica pop actual não seria a mesma sem James Murphy. Há momentos quase à altura de "All My Friends" (dizer isto não é dizer pouco).

Los Campesinos!, "Romance is Boring" - 7/10
Pop orelhuda e muito energética: são eles que valem quando o estado de vigília teima em querer ausentar-se.

Massive Attack, "Heligoland" - 7?/10
Já se passou uma dúzia de anos desde o "Mezzanine" e a esse nível já não é possível chegar. Continua a ser-se bastante pertinente. Precisa de mais atenção (daí a interrogação).

MGMT, "Congratulations" - 8+/10
A reinvenção é essa coisa com penas.

Parallels, "Visionaries" - 7/10
Pontuais vocoders, sintetizadores e electrónica pop? Bring them on!

She & Him, "Volume Two - 7/10
Banda sonora para a estação primavera/verão de 2010. Parece-me que já se foi mais longe, mas desilusão não é termo que se aplique assim.

Sleigh Bells, "Treats" - 8/10
As minhas colunas nunca são as mesmas após cada reprodução de "Crown on the Ground".

Spoon, "Transference" - 7/10
Não é um disco que baralhe as cartas e volte a dar, mas um disco mais convencional dos Spoon é sempre avesso à falta de qualidade.

The Drums, "The Drums" - 6+/10
Álbum simpático para o Verão. Consegue trazer alguma alegria a uma estação sazonal sem grande interesse.

The National, "High Violet" - 7?/10
Há esforços em vão, mas há tiros certeiros; o sucessor de "Boxer" não é para ser recebido de ânimos leves. Merece mais atenção do que a obteve até agora.

The Radio Dept., "Clinging to a Scheme" - 6/10
Estes suecos já juntaram o shoegaze e a pop de forma bem mais interessante do que os Pains of Being Pure at Heart e vizinhos. Todos temos dias menos bons, ainda que exista "Heaven's on Fire".

Two Door Cinema Club, "Tourist History" - 6/10
Pop orelhuda óbvia. Interessante e catchy q.b.

Vampire Weekend, "Contra" - 8/10
Há energia do mesmo sítio de "Walcott" e continuam a existir africanismos emigrantes. Parece-me não haver aqui nada a mais.

Wavves, "King of the Beach" - 7+/10
A banda sonora oficial para a praia é esta, não são os The Drums.
 
Copyright 2009 a esperança é essa coisa com penas. Powered by Blogger Blogger Templates create by Deluxe Templates. WP by Masterplan