sexta-feira, 26 de março de 2010

É bom ver-te sem as correntes, Ricardus.

Impus a mim mesmo uma espécie de auto-controlo relativamente a informação relacionada com a série LOST quando criei este espaço. Bem sei que, podendo, todas as quartas-feiras existiria pano-para-mangas para muitas linhas sobre este assunto, mas a verdade é que existem outras coisas a serem igualmente tratadas. Quebro esse silêncio para falar sobre o episódio desta semana, "Ab Aeterno", sendo estas palavras dirigidas apenas aos espectadores regulares desta série (existem spoilers sobre o episódio em questão a seguir à imagem).




Uma concepção bastante simples de Bem e de Mal com a Ilha no seu epicentro. Será?


Richard era, até esta semana, uma das figuras mais intrigantes da mitologia de LOST: um indivíduo que aparentemente não envelhece, que se encontrava na Ilha antes da Iniciativa Dharma e que era intermediário de Jacob perante os indíviduos do Templo (entre outros). Assim, um episódio centrado na sua figura era um dos marcos mais antecipados desta derradeira temporada. E a verdade é que tudo é concretizado: mas vamos por partes.

Em primeiro lugar, temos a tragédia grega mais uma vez ensaiada no amor entre Richard e Isabella. Este ponto fulcral acaba por ser o epicentro de todo o "Destino" de Richard: a busca pela redenção através da fé surgiu muitas vezes representada na série, mas talvez nunca de forma tão desesperante e desorientadora. Contudo, a redenção acaba por ser aparentemente encontrada no encontro com Jacob (mais tarde no episódio descobrimos que isto não é tão linear quanto isso). A cena de reencontro do casal no limiar vida/morte (com Hurley como intermediário) é absolutamente desarmante.

Em segundo, há a consagração da mitologia de uma série sem paralelo. Todo o episódio é constituído por referências e paralelismos a elementos regularmente abordados em LOST, bem como aos mais distantes. Pois que, neste momento, se começa a ter uma percepção um pouco mais concreta da globalidade destes elementos que nos têm vindo a ser apresentados desde o episódio-piloto, sendo constantemente reinventados nas mais adversas condições.

Por último, a introdução física ao conflito Jacob/Esau (Esau designa, em termos práticos, o indíviduo de negro). Ainda que os últimos dez episódios tenham girado em torno desta disputa, na realidade escassas vezes tinhamos assistido à materialização deste conflito omnipresente. A trama ganha uma forma absolutamente nuclear mais uma vez e o que a coloca nesta posição é precisamente este dilema tão típico da série: em que facções residem, realmente, o Bem e o Mal? Esta situação tem sido miraculosamente tratada com imparcialidade até à data, transportando estas concepções para julgamentos morais formulados por Jacob e Esau, mas a verdade é que estes parecem ter o mesmo valor de verdade de os de um qualquer mortal.

Assim, parece-me estar encontrada a segunda obra-prima desta sexta temporada, precedida por "Sundown", claro está.

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