segunda-feira, 29 de março de 2010

Ghost in the machine



A certo ponto, e na sequência de uma invasão de um encontro de scanners por homens de Revok que acaba num abrupto incêndio e consequente fuga, a personagem interpretada por Jennifer O'Neill apresenta uma expressão absolutamente ausente e perturbada. A personagem encontrava-se a meio de um scan e, quando chamada à realidade, profere "Agora eu sei qual é a sensação de morrer". Refiro-me portanto ao filme "Scanners" de David Cronenberg. E este momento acaba por ter um significado de rotura, na medida em que os scanners são colocados num contexto inegavelmente antropológico: estes seres possuem, afinal, sentimentos e emoções que transcendem as suas capacidades neurológicas e telepáticas. Pois que esta fusão máquina-humano não é propriamente inédita na filmografia do realizador canadiano (posteriormente em Videodrome onde sinais de televisão viriam a estar em sintonia com corpos, entre muitos outros casos). A questão está na abordagem, que aqui se encontra intrínseca à genese humana e que com ela vive pacificamente. De certa forma, existe alguma utopia na visão de Cronenberg, de aproximação quase íntima do Humano à Maquinaria, mas o realizador não está particularmente interessado em apregoar as vantagens disto: consequências devastadoras são desde cedo concretizadas e o limiar entre as duas entidades torna-se o território de exploração de Cronenberg.

Nota: Dentro deste contexto, e para uma abordagem bastante diferente, e impossível não referir o primeiro tomo de "Ghost in the Shell".

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